quarta-feira, 11 de junho de 2008

Brinde de sangue



Ano após ano a história continua a mesma, mudam apenas os personagens, que são impossíveis de serem escalados para um remake de acidentes fatais nas estradas mineiras. O estado com a maior malha viária do país, torneada de péssima sinalização, estrutura e calçamento, é controlada por apenas 800 policiais rodoviários. Em um trabalho que são obrigados a fiscalizar os 10 mil quilômetros de estradas, mais os desdobramentos em funções administrativas. Ou seja, um membro da equipe a cada 1.250 quilômetros. Cerca de 12 horas e 30 minutos um do outro se percorrerem o caminho a 100 km/h em linha reta. O que para Minas é impossível!


O governo prometeu a contratação de mais 3 mil homens para o país, que deveria para ter acontecido no último grande feriado deste primeiro semestre. Mas parece que a intenção é comemorar o feito como presente de Natal, assim, diminuir as trágicas estatísticas do ano na virada ao lado de uma garrafa de champagne. Na prorrogação da semana, com o Corpus Christi, novos recordes foram batidos, contudo, dessa vez muitos brasileiros não comemoraram. Vinte e duas pessoas perderam a vida nas BRs mineiras, mais que nos cinco dias de carnaval. Uma incoerência entre a festa da renovação de Cristo e a festa do pecado.


No dia mais crítico, o que registrou maior número de mortes, foi justamente o escolhido pelos policiais rodoviários para protestar por salários e aumento no efetivo. Coincidência? O número de mortes nos feriados prolongados deste ano vinham caindo desde o Carnaval: 19; 11; 10; 8; e agora 22 vítimas. Culpa das 24 horas de paralisação parcial? É o que apontam os dados, mas o único caminho há escolher em um país cheio de jeitinhos e sem bifurcações para profissionais que arriscam suas vidas nessas estradas perigosas. O jeito é agir sob pressão, que é pouco usada e de direito. Uma forma valorizar os esforços diários de uma classe de brasileiros que é acusada à preço de banana.


Hoje, após o impacto causado pelo movimento, o governo decidiu atender as reivindicações. O acordo, feito em março, previa a exigência de diploma de nível superior para os novos policiais e parcelas de reajuste salarial para o mês de julho. Articulosamente planejada, uma medida provisória prorrogou para novembro o acréscimo nas cifras dos federais, o que aponta um novo suspeito nessa trama de elevados o índices de vítimas em um único capítulo que nunca haverá fim. Porém, os quatro meses, parece, fariam a diferença para que no Reveillon o brinde dos números não fosse com um simples espumante.

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